Por Cristina Coimbra*
Muito se tem falado sobre a gestão de desempenho, mas, em épocas tão pragmáticas e aceleradas, será que está claro qual é o âmago desse sensível trabalho?
O ato de avaliar consiste em observar a realidade e interpretá-la conforme nossos referenciais pessoais, a fim de obter resultados desejados ou necessários. Essa interpretação nunca é isenta, ela sempre é filtrada por uma visão de mundo. A palavra inglesa mindset refere-se ao modelo mental predominante, que é forjado ao longo da vida e filtra as informações que chegam a nós o tempo todo. Varia conforme crenças, cultura, época, local, hábitos, vícios, apegos, desapegos, histórias de vida etc. É como ver a vida com óculos. Dependendo da qualidade das lentes, a imagem fica clara ou distorcida, influenciando análises e escolhas.
Por exemplo, no século XVIII, na Inglaterra, o trabalho dos artesãos foi substituído por máquinas, deflagrando o que chamamos de 1ª Revolução Industrial. Para aumentar a eficiência, buscava-se reduzir a liberdade de ação dos trabalhadores. Valorizou-se a precisão, a rapidez, a eficiência, atingidas através da criação de uma divisão de tarefas fixas, supervisão rígida, regras e procedimentos detalhados. Em decorrência, originaram-se processos de avaliação de desempenho voltados a manter sob controle a disciplina e garantir submissão, funcionando como instrumentos de punição ou recompensa.
Quando me debruço sobre esse enfoque organizacional, compreendo que essa estratégia foi escolhida a partir de um modelo mental específico, que serviu a um momento em que cumprir padrões com exatidão não era algo possível de se alcançar por meio de robôs, simplesmente por não estarem disponíveis. Esforços excessivos e altos investimentos não foram poupados a fim de adestrar humanos à conformidade.
Um estudo da consultoria McKinsey apontou grandes mudanças que estão ocorrendo na valorização das competências e habilidades que um profissional possui. A previsão sobre as mudanças no padrão de contratações de 2017 a 2030 revelou números implacáveis. Atividades baseadas em operação de equipamentos, inspeção e monitoramento devem decrescer 2%. As relacionadas com inserção de dados ou funções que requeiram alfabetização, matemática e comunicação básica diminuirão 25%, tendendo a não mais existir. Em contrapartida, funções com alta cognição como criatividade e interpretação vão ter sua demanda aumentada em 11%. Funções que exigem competências emocionais, sociais, liderança, empreendedorismo e autonomia vão crescer 47%. As atividades baseadas em competências digitais e tecnológicas tendem a expandir 141%.
Com a pandemia, fomos pegos despreparados e estamos sendo pressionados a encontrar uma nova forma trabalhar e nos relacionar. Nunca foi tão necessário ao ser humano resgatar capacidades que lhe foram desencorajadas, muitas vezes usurpadas pelos grupos dominantes, e que o diferenciam das outras espécies: autonomia, questionamento livre, escolha, originalidade, capacidade de autogestão e noção do propósito do seu fazer no mundo!
Quando somamos os efeitos da herança mecanicista, a precipitação do progresso da tecnologia, o despreparo para o enfrentamento do “novo normal”, temos uma fórmula indigesta e desafiadora para as lideranças de todos os segmentos.
Como Carlos Drummond de Andrade, eu pergunto: E agora, José?
Quem não investiu na gestão de desempenho sustentável, com foco em resultados obtidos por meio do desenvolvimento das equipes, nos vínculos de confiança, no comprometimento por engajamento a um propósito e na gestão participativa, percebe-se, do dia para a noite, sem saber o que fazer. Tornou-se urgente oxigenar nossos paradigmas e modelos de gestão de desempenho para sermos capazes de adotar formas mais adequadas ao contexto de mudança que veio para ficar.
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* Cris Coimbra é coach, mentora de negócios e lideranças, tecnóloga em gestão de pessoas, apaixonada pelo Psicodrama, autodidata, especialista em arquitetura de cargos e papeis e remuneração e desenvolvimento de times de alta performance. Trabalhou em multinacionais com Kodak Brasileira e Monsanto do Brasil, tendo oportunidade de visitar sites dos EUA e Canadá para benchmarking em desenvolvimento de pessoas. Há trinta anos fundou a YOD Consultoria, dedicando-se à missão de impulsionar ascensão de seres humanos e empresariais para cumprir seu propósito de criar um contexto organizacional mais ético e próspero a todos. Criou a metodologia de gestão de desempenho YODRH, com ferramentas e instrumentos on-line e abordagem coerente com as melhores práticas de gestão de pessoas e processos, que atende empresas de todos os tipos, portes e segmentos.
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